A amiga especial

Passei o verão fechada juntamente com as minhas irmãs. Cada uma da sua cor. Recordamos os passeios pela praia, as idas ao restaurante e as viagens. Ah! As viagens…


Algumas de nós viemos de países onde o frio e o vento são vigorosos. Ninguém pode sair à rua sem a nossa companhia ou de uma qualquer parente menos vistosa. Somos flores coloridas saltitando nas ruas da cidade. 


Os dias mais felizes, em que me senti muito amada, foi quando me tornei na tua melhor amiga. Era o teu conforto. O teu rosto iluminava-se ao olhar para o espelho e escolhias qual de nós te faria companhia. «A roxa, fica-me bem» disseste; «Essa é muito escura! Eu sou a que te dá mais brilho! O amarelo é a cor do sol.»


Fui a amiga que ouviu as tuas dores, que testemunhou as lágrimas e a tristeza no olhar. Recordo o dia em que perdestes o cabelo; fui eu que te consolei; ajudei à aceitação.  

Era um prazer contemplar o teu sorriso depois de me aconchegar ao teu rosto.
Confiantes, íamos até à beira Tejo. O sol de inverno realçava a minha presença. Quando via o telemóvel à minha frente, preparado para uma “selfie”, ajeitava-me, e sentia a tua satisfação no olhar.  O meu esforço resultara e a foto podia ser partilhada.


Hoje, já não precisas de mim, mas continuamos amigas especiais. Passei a fazer parte de ti e a abrilhantar os cabelos que voltaram a iluminar o teu rosto.

«A boina»

A Morte Veio de repente

O meu tio Francisco Esteves faleceu com COVID 19, no Hospital de Santa Maria, depois de um mês internado. Escrevi este texto de imediato, ainda sob a emoção. Só agora, já com o devido distanciamento, o revi e o publico em sua homenagem.

Quando nasci tinhas onze anos. Foi contigo que comecei a dar os primeiros passos.

Recordo quando a avó enchia os pratos e as travessas de arroz-doce e o aroma da canela nos despertava das brincadeiras junto ao poço. Corríamos em desafio até à cozinha. Ombro a ombro, rapávamos as sobras do arroz, numa pequena competição.

Tio e sobrinha a concorrerem por mais uma colherada.

Lembras-te quando fomos os dois na procissão do Senhor dos Passos, no Cartaxo?

Vestias uma batina roxa até aos pés e caminhavas, de mão dada, com um anjinho de asas celestiais. Marchávamos ao som dos cânticos atrás do andor. No final da procissão era obrigatório ir tirar o retrato. Com a batina já amarrotada, esforçavas-te para manter o anjo sentado em cima da mesa de pé de galo. O fotógrafo desesperava, mas conseguiu retratar o acontecimento.

Foi quando partiste para a guerra, em Moçambique, que te revejo fardado de soldado com um sorriso que escondia a emoção – toda a família rumou a Lisboa.

Sempre que passo sobre a ponte 25 de Abril, o meu olhar revê aquelas imagens, no cais de Alcântara.

Um a um, os soldados desapareciam engolidos pelo monstro cinzento. As famílias amontoavam-se por detrás das vedações de metal. Gritavam pelos nomes dos filhos, irmãos, maridos, namorados…. Choravam e erguiam os braços a implorar um último olhar. Rogavam a Deus pelas suas vidas.

Uma mulher, vestida de preto e lenço na cabeça, chega num táxi. Grita pelo filho. Corre em direção ao navio. Os polícias agarram-na. As chaminés rugem e o enorme barco afasta-se em direção ao oceano. E a mulher continua a gritar pelo filho…

Foste para uma terra que desconhecias.

Uma guerra que não era a tua.

Onde se morria e se matava.

Calaste o que viveste naquele inferno. Por segundos, poderia ter sido o camião que conduzias a explodir.

Foi o destino? Foi sorte?

Três anos depois voltámos a Alcântara. Os abraços e as lágrimas de alegria ressoavam, num coro de vozes, em agradecimento à Nossa Senhora de Fátima.

Alguns nunca regressaram. Os caixões eram desembarcados e colocados longe dos olhares inoportunos.

Hoje os caixões chegam também fechados. Não há tempo para um último olhar.

O covid-19 levou-os de repente. Permaneceram dias, semanas, meses… isolados do mundo… e dos seus.

Estiveste um mês no hospital. Conversávamos ao telefone. Colocavas a tua fotografia nas redes sociais. E ainda escreveste umas piadas sobre futebol.

Parecia que ias vencer o jogo da tua vida.

Percebeste, por fim, que o covid-19 te derrotava.  

Ganhou-te nesta luta desigual.

Uma guerra onde não sabemos onde está o inimigo.

Foste a enterrar sem nos despedirmos.

A morte veio de repente.

“Caminho de Pedras” – SINOPSE

O conto “Caminho de Pedras” decorre no quarto, de um apartamento num segundo andar de uma avenida de Lisboa, no dia em que Sara recebe a notificação do Tribunal de Família. A guarda de Mariana tinha-lhe sido retirada.

O conflito com a mãe e o amor pela filha marcam o desenvolvimento da ação. As memórias e reflexões de Sara vão dando a conhecer os acontecimentos que servem de pano de fundo ao drama destas três mulheres.

Três gerações marcadas pelas suas histórias e conflitos interiores.

Teresa, mulher sofrida, mãe duas vezes, sacrificou a carreira profissional para apoiar a filha e criar a neta.

Sara, mãe aos 15 anos, perdeu-se num caminho de drogas e depressões. O amor maternal esteve sempre presente, porém não aprendeu a ser mãe. Eterna adolescente, acomodou-se a viver na dependência da mãe. Perdeu-se num caminho de drogas e depressões. Não teve coragem de enfrentar a oposição da mãe à determinação de Mariana em querer mudar de género. Agora, precisa de recuperar os laços afetivos e o perdão da filha.  

Mariana sente que vive no corpo errado. Carente de amor e atenção, a diferença persegue-a desde a escola primária. Revoltada com a incompreensão do seu drama, rejeita a família.

A aparente felicidade e falsa paz com que Teresa, Sara e Mariana sempre viveram é desfeita quando Mariana e Sara decidem assumir as suas vidas.

Fechada no seu quarto, Sara tem uma difícil decisão em mãos: saltar da varanda daquele segundo andar e ir ao encontro de Mariana, ou, mais uma vez, ceder aos seus medos. Sente-se num labirinto.

Qual o caminho a seguir?

Brevemente e-book

𝐎 𝐚𝐦𝐨𝐫 𝐩𝐞𝐥𝐚 𝐩𝐨𝐞𝐬𝐢𝐚, 𝐩𝐞𝐥𝐚 𝐞𝐬𝐜𝐫𝐢𝐭𝐚 𝐜𝐫𝐢𝐚𝐭𝐢𝐯𝐚 𝐞 𝐩𝐞𝐥𝐚 𝐟𝐨𝐭𝐨𝐠𝐫𝐚𝐟𝐢𝐚 𝐟𝐢𝐜𝐚𝐫𝐚𝐦 𝐟𝐞𝐜𝐡𝐚𝐝𝐚𝐬 𝐧𝐚𝐬 𝐠𝐚𝐯𝐞𝐭𝐚𝐬 𝐝𝐨 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨. 𝐀𝐬 𝐝𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨 𝐜𝐨𝐫𝐩𝐨 𝐞 𝐝𝐚 𝐚𝐥𝐦𝐚 𝐚𝐛𝐫𝐢𝐫𝐚𝐦 𝐚𝐬 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐚𝐬 𝐚𝐨𝐬 𝐬𝐞𝐧𝐭𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 𝐞 𝐞𝐦𝐨çõ𝐞𝐬 𝐞 𝐬𝐚𝐥𝐭𝐚𝐫𝐚𝐦 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐚𝐬 𝐩á𝐠𝐢𝐧𝐚𝐬 𝐛𝐫𝐚𝐧𝐜𝐚𝐬 𝐝𝐨𝐬 𝐜𝐚𝐝𝐞𝐫𝐧𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐟𝐮𝐢 𝐞𝐬𝐜𝐫𝐞𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐚𝐨 𝐥𝐨𝐧𝐠𝐨 𝐝𝐨𝐬 𝐜𝐢𝐧𝐜𝐨 𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐭𝐫𝐚𝐭𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 𝐞 𝐢𝐧𝐜𝐞𝐫𝐭𝐞𝐳𝐚𝐬.

𝐔𝐦 𝐜𝐮𝐫𝐬𝐨 𝐝𝐞 𝐞𝐬𝐜𝐫𝐢𝐭𝐚 𝐜𝐫𝐢𝐚𝐭𝐢𝐯𝐚 𝐟𝐨𝐢 𝐚 𝐨𝐩𝐨𝐫𝐭𝐮𝐧𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐭𝐢𝐜𝐢𝐩𝐚𝐫 𝐧𝐮𝐦𝐚 𝐜𝐨𝐥𝐞𝐭â𝐧𝐞𝐚 𝐝𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐨𝐬 “𝐎 𝐓𝐞𝐦𝐩𝐨 𝐝𝐚𝐬 𝐏𝐚𝐥𝐚𝐯𝐫𝐚𝐬 𝐜𝐨𝐦 𝐓𝐞𝐦𝐩𝐨”, 𝐞𝐦 𝐯𝐞𝐫𝐬ã𝐨 𝐄-𝐛𝐨𝐨𝐤, 𝐜𝐨𝐦 𝐨 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐨 “𝐂𝐚𝐦𝐢𝐧𝐡𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐞𝐝𝐫𝐚𝐬”.

𝐄-𝐁𝐎𝐎𝐊 𝐛𝐫𝐞𝐯𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐝𝐢𝐬𝐩𝐨𝐧í𝐯𝐞𝐥.
20 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐚𝐬
20 𝐯𝐨𝐳𝐞𝐬

As velas ardem até ao fim


Um livro de Sándor Márai
Um romance sobre a amizade, a paixão e a vida.
Uma prosa fértil e deslumbrante
“Um dos melhores romances escritos no século XX, se não o melhor ” Guia del Ocio

“Podes alcançar tudo na vida, podes vencer tudo à tua volta e no mundo, a vida pode oferecer-te tudo e podes tirar tudo da vida: mas nunca podes mudar os gostos, as inclinações, o ritmo da vida duma pessoa, aquela diferença que caracteriza por completo uma pessoa, a pessoa que é importante para ti, que te interessa. “

O Rio Tejo

Rio Tejo.
O Tejo da minha infância.
Das brincadeiras e das aprendizagens.
Espelho de água tranquila
Se espreguiça até ao mar.
Nas suas margens as terras
E as gentes
Gentes da terra e do rio
Da lavoura e da pesca

Hoje
Rio triste
Sem gentes
Sem vida
Permanece a melancolia
Dos tempos vividos

Maria j Esteves
Valada do Ribatejo

O pôr do sol

4 setembro 2020

Hoje foi dia de observação

 Hoje foi dia de observação
Admirar o pôr do sol
Mais um
Todos os dias
O momento
Entre o dia
E a noite
O momento
Que o coração
Bate mais forte
O momento
Que os Olhos
se iluminam
Do Brilho
E cegam
O momento
que o calor morno
acaricia
Os rostos
Os corpos
E a almas
Que se elevam
Com a luz
A luz vermelha
De sangue
E paixão
...
O pôr do sol

Maria J Esteves
27 agosto 2020

Mais um dia de observação

Setembro. As doces cores do outono, espreitam. O morno calor do verão, adormece. Tempo de olhar para o mundo interior. Tempo de recolhimento. E reflexão.

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